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Foto do escritorFelipe Garofallo

Biofilme bacteriano em infecções de cães e gatos

Biofilmes bacterianos desempenham um papel crucial nas infecções de cães e gatos, representando um desafio significativo para o tratamento veterinário.



O biofilme é uma comunidade complexa de microrganismos que se aderem a superfícies biológicas ou não biológicas, envoltas em uma matriz de substâncias poliméricas extracelulares que elas mesmas produzem. Esta estrutura confere às bactérias uma proteção robusta contra fatores externos, incluindo o sistema imunológico do hospedeiro e agentes antimicrobianos, dificultando o tratamento das infecções.


Nos cães e gatos, o biofilme bacteriano é frequentemente associado a uma variedade de infecções, incluindo infecções cutâneas, otites, periodontites e infecções urinárias. As infecções cutâneas, por exemplo, podem ser exacerbadas pela presença de biofilmes, que tornam as lesões crônicas e recalcitrantes ao tratamento. Da mesma forma, as otites, especialmente as otites externas crônicas, frequentemente envolvem biofilmes formados por bactérias como Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus spp., complicando a resolução da infecção.


A formação de biofilmes começa com a adesão inicial das bactérias a uma superfície. No caso das infecções em cães e gatos, essa superfície pode ser a pele, a mucosa oral, o epitélio do canal auditivo ou os tecidos do trato urinário. Após a adesão, as bactérias começam a produzir a matriz extracelular, composta por polissacarídeos, proteínas e DNA extracelular, que confere estabilidade estrutural ao biofilme e protege as bactérias encapsuladas. Esse ambiente proporciona condições ideais para a comunicação intercelular e a troca de material genético, incluindo genes de resistência a antibióticos.


A resistência antimicrobiana é um dos maiores desafios associados às infecções por biofilmes. As bactérias dentro de um biofilme podem ser até 1.000 vezes mais resistentes aos antibióticos do que suas contrapartes planctônicas (livres). Isso se deve não apenas à barreira física proporcionada pela matriz extracelular, mas também a um fenômeno conhecido como persistência, onde uma subpopulação de bactérias entra em um estado dormente que é altamente resistente aos antibióticos. Além disso, a alta densidade celular dentro dos biofilmes facilita a transferência horizontal de genes, incluindo aqueles que conferem resistência a múltiplas classes de antibióticos.


Para diagnosticar infecções associadas a biofilmes em cães e gatos, é essencial uma abordagem cuidadosa que combine a observação clínica com técnicas laboratoriais. A cultura bacteriana tradicional pode não ser suficiente para detectar biofilmes, uma vez que as bactérias encapsuladas podem não crescer bem em meios de cultura padrão. Técnicas avançadas, como microscopia eletrônica e análise de DNA, podem ser necessárias para confirmar a presença de biofilmes.


O tratamento de infecções por biofilmes requer estratégias multifacetadas. O uso de antibióticos isoladamente geralmente é insuficiente devido à alta resistência associada aos biofilmes. Abordagens combinadas, que incluem a remoção mecânica do biofilme, o uso de agentes antimicrobianos tópicos e sistêmicos, e a aplicação de substâncias que possam dispersar a matriz do biofilme, são frequentemente necessárias. Por exemplo, a limpeza regular e meticulosa das lesões cutâneas e do canal auditivo, juntamente com a administração de antibióticos apropriados baseados em testes de sensibilidade, é uma abordagem comum no manejo de infecções crônicas.


A prevenção também desempenha um papel crucial na gestão das infecções por biofilmes. Medidas preventivas incluem a manutenção de uma boa higiene e cuidado regular dos animais de estimação, incluindo a escovação dental para prevenir periodontite, a limpeza regular das orelhas para prevenir otites, e a manutenção de uma pele saudável para prevenir infecções cutâneas. Além disso, a vigilância contínua e o monitoramento da resistência antimicrobiana são essenciais para ajustar as estratégias de tratamento e prevenir a disseminação de cepas resistentes.


A pesquisa contínua sobre biofilmes bacterianos e suas implicações nas infecções de cães e gatos é vital para desenvolver novas estratégias de diagnóstico e tratamento. O entendimento das dinâmicas de formação de biofilmes, a resistência antimicrobiana associada e os mecanismos de persistência das bactérias são áreas-chave que necessitam de investigação contínua.


Referências bibliográficas

1. Costerton, J. W., Stewart, P. S., & Greenberg, E. P. (1999). Bacterial biofilms: a common cause of persistent infections. Science, 284(5418), 1318-1322.

2. Donlan, R. M., & Costerton, J. W. (2002). Biofilms: survival mechanisms of clinically relevant microorganisms. Clinical Microbiology Reviews, 15(2), 167-193.


Sobre o autor


Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta presencial pelo whatsapp (11)91258-5102 ou uma consultoria on-line por vídeo.

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