A cetamina é um anestésico dissociativo amplamente utilizado na medicina veterinária, notadamente em cães, tanto como agente anestésico quanto analgésico. Sua eficácia no manejo da dor ortopédica em cães tem sido bem documentada, tornando-a uma ferramenta valiosa no arsenal terapêutico de veterinários.
Quando se trata de dores ortopédicas, a cetamina oferece múltiplos benefícios. Ela atua bloqueando os receptores NMDA (N-metil-D-aspartato) no sistema nervoso central, que estão envolvidos na transmissão e percepção da dor. Este bloqueio impede a sensibilização central e a amplificação da dor, que são características comuns em condições de dor crônica e intensa, como as associadas a lesões ortopédicas. Além disso, a cetamina tem a capacidade de prevenir a dor fantasma e a hiperalgesia, fenômenos frequentemente observados após traumas severos ou cirurgias invasivas.
A administração de cetamina em cães pode ser feita por várias vias, incluindo intravenosa (IV), intramuscular (IM) e subcutânea (SC). A via IV é frequentemente preferida em contextos cirúrgicos devido ao seu rápido início de ação e controle fácil sobre a dosagem. A cetamina também pode ser administrada como uma infusão contínua, permitindo um controle prolongado e estável da dor pós-operatória. Em protocolos multimodais de analgesia, a cetamina é frequentemente combinada com outros analgésicos, como opióides, AINEs (anti-inflamatórios não esteroides), e anestésicos locais, para otimizar o controle da dor e minimizar os efeitos colaterais de cada medicamento individual.
Uma das vantagens distintivas da cetamina é a sua capacidade de fornecer analgesia eficaz sem causar depressão respiratória significativa, um problema comum com muitos outros analgésicos potentes. Isso é particularmente benéfico em pacientes críticos ou em animais com comprometimento respiratório. Além disso, a cetamina possui propriedades simpaticomiméticas, que podem ajudar a manter a pressão arterial e a frequência cardíaca durante procedimentos anestésicos, reduzindo o risco de complicações hemodinâmicas.
Os efeitos colaterais da cetamina são geralmente bem tolerados pelos cães, embora possam incluir salivação excessiva, movimentos involuntários, e, ocasionalmente, alucinações ou desorientação durante o período de recuperação. No entanto, esses efeitos são geralmente transitórios e podem ser mitigados pela administração concomitante de outros agentes anestésicos ou sedativos, como as benzodiazepinas.
Na prática clínica, a cetamina é frequentemente utilizada para controlar a dor associada a várias condições ortopédicas, como fraturas, luxações, e displasias, bem como durante procedimentos cirúrgicos complexos como artroplastias e correções de ligamentos cruzados. Além disso, seu uso no manejo da dor crônica ortopédica, como a osteoartrite, está ganhando aceitação, oferecendo uma opção terapêutica adicional para cães que não respondem bem a outros analgésicos.
Em resumo, a cetamina é uma ferramenta extremamente útil e eficaz no manejo da dor ortopédica em cães. Sua versatilidade na administração, juntamente com sua capacidade de fornecer analgesia potente sem efeitos colaterais severos, a torna uma escolha popular entre os veterinários. O uso adequado da cetamina, dentro de protocolos bem estruturados e supervisionados, pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes caninos que sofrem de dor ortopédica.
Referências bibliográficas
1. Wagner, A. E., Hellyer, P. W., & Mama, K. R. (2010). "Ketamine: Pharmacology, analgesia, and side effects". Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 40(3), 515-530.
2. Greene, S. A. (2007). "Pain management for veterinary technicians and nurses". Blackwell Publishing.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta presencial pelo whatsapp (11)91258-5102 ou uma consultoria on-line por vídeo.
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