A doença do disco intervertebral (DDIV) é uma condição amplamente reconhecida na medicina veterinária, especialmente em cães, desde o século XIX, quando foram feitas as primeiras descrições de material discal extrudido dentro do canal vertebral.
Desde então, a compreensão da patologia do disco intervertebral em cães e gatos aumentou dramaticamente, com várias formas de DDIV sendo identificadas.
Esse texto visa fornecer uma visão geral atualizada dos sistemas de classificação de DDIV, tanto históricos quanto contemporâneos, destacando as descobertas importantes e as controvérsias que as sustentam.
O disco intervertebral desempenha um papel crucial na estabilidade da coluna vertebral, ligando as vértebras individuais para fornecer suporte ao esqueleto axial e permitindo movimento multiplanar. Ele protege a medula espinhal e facilita a saída e entrada dos nervos periféricos.
Embriologicamente, o disco deriva do mesoderma, com exceção do núcleo pulposo, que é um remanescente da notocorda. O disco possui quatro regiões: o núcleo pulposo, a zona de transição, o anel fibroso e as placas terminais cartilaginosas.
A degeneração do disco intervertebral pode ocorrer de duas maneiras principais: metaplasia condroide e metaplasia fibrosa, associadas a diferentes raças de cães.
Essa degeneração pode levar a dois tipos de herniação discal: extrusão aguda (Hansen Tipo I) e protrusão crônica (Hansen Tipo II).
A extrusão aguda envolve a ruptura do anel fibroso e a expulsão do núcleo pulposo para o canal vertebral, causando compressão medular.
A protrusão crônica, por outro lado, envolve uma protrusão gradual do material discal sem ruptura completa do anel fibroso.
Além desses tipos clássicos, outras formas de DDIV têm sido reconhecidas, incluindo a extrusão de núcleo pulposo hidratado (HNPE), a extrusão de núcleo pulposo não compressiva aguda (ANNPE) e a extrusão discal traumática.
Cada uma dessas condições apresenta diferentes características patológicas e clínicas, requerendo métodos específicos de diagnóstico e tratamento.
A classificação de DDIV tem evoluído ao longo do tempo, inicialmente baseada em mudanças histopatológicas e, mais recentemente, incorporando técnicas avançadas de imagem, como a ressonância magnética (RM), que permite uma caracterização mais precisa da degeneração discal.
No entanto, ainda existem limitações nessa classificação, especialmente quando se trata de distinguir os graus de degeneração discal e suas implicações clínicas.
Na medicina veterinária, a DDIV é mais comum em raças condrodistróficas, como Dachshunds e Poodles, que apresentam uma predisposição genética para a metaplasia condroide e subsequente extrusão discal. Por outro lado, raças não condrodistróficas, como Pastores Alemães e Labradores, tendem a desenvolver metaplasia fibrosa, resultando em protrusão discal.
O tratamento de DDIV varia dependendo do tipo e da gravidade da lesão. Opções conservadoras incluem repouso, fisioterapia e medicação para controle da dor e inflamação.
Em casos mais graves, a intervenção cirúrgica pode ser necessária para descomprimir a medula espinhal e remover o material discal extrudido.
Com o avanço contínuo das técnicas de imagem e a compreensão genética da DDIV, espera-se que novas classificações mais detalhadas e específicas sejam desenvolvidas, permitindo um manejo mais eficaz dessa condição debilitante.
Referências bibliográficas
Fenn J, Olby NJ, e o Consórcio Canine Spinal Cord Injury (CANSORT-SCI). (2020). Classification of Intervertebral Disc Disease. Frontiers in Veterinary Science, 7, Artigo 579025. doi:10.3389/fvets.2020.579025.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta presencial ou consultoria on-line por vídeo pelo whatsapp (11)91258-5102.