A discinesia paroxística em cães é uma condição neurológica rara caracterizada por episódios intermitentes de movimentos anormais involuntários. Esses episódios podem incluir tremores, distonia, movimentos coreiformes, atetose ou uma combinação dessas manifestações, geralmente sem perda de consciência.
A condição se distingue de crises epilépticas por não estar associada a atividade epileptiforme detectável no eletroencefalograma (EEG) e por não responder a anticonvulsivantes tradicionais.
Os sinais clínicos da discinesia paroxística variam conforme a gravidade e duração dos episódios. Os cães podem apresentar contrações musculares involuntárias, posturas anormais e dificuldades para andar durante os episódios, que podem durar de segundos a vários minutos.
O intervalo entre as crises é irregular, podendo ocorrer diariamente ou com semanas de espaçamento. Muitas vezes, os proprietários descrevem que os eventos são desencadeados por fatores como exercício, excitação ou estresse, embora nem sempre seja possível identificar um gatilho específico.
A etiologia exata da discinesia paroxística em cães ainda não é completamente compreendida, mas acredita-se que possa ter um componente genético, uma vez que algumas raças apresentam predisposição. Raças como Cavalier King Charles Spaniel, Border Terrier, Labrador Retriever e Scottish Terrier estão entre as mais frequentemente relatadas com a condição. Em algumas delas, como o Cavalier King Charles Spaniel, a doença tem sido associada a mutações genéticas específicas.
O diagnóstico da discinesia paroxística é desafiador e geralmente baseado na história clínica e na observação de vídeos dos episódios, uma vez que os eventos são intermitentes e podem não ser reproduzidos durante a consulta veterinária. Exames complementares, como ressonância magnética (RM) e líquor cefalorraquidiano (LCR), podem ser necessários para excluir outras causas neurológicas, como encefalopatias inflamatórias, distúrbios metabólicos e doenças degenerativas.
O tratamento da discinesia paroxística é variável e depende da resposta do animal a diferentes abordagens terapêuticas. Em alguns casos, intervenções dietéticas podem ser eficazes, como a utilização de dietas cetogênicas ou livres de glúten, especialmente em cães onde a condição está associada a sensibilidades alimentares.
O uso de medicações como clonazepam, levetiracetam ou acetazolamida tem sido relatado com benefício em alguns casos, embora a resposta varie entre indivíduos. O monitoramento a longo prazo é essencial para avaliar a frequência e intensidade dos episódios e ajustar o tratamento conforme necessário.
Como a discinesia paroxística não afeta a consciência do animal e, em muitos casos, não interfere significativamente na qualidade de vida, o prognóstico geralmente é favorável. No entanto, a preocupação dos tutores com os episódios intermitentes pode ser um desafio, e a educação sobre a condição e suas particularidades é fundamental para o manejo adequado.
Referências bibliográficas:
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Packer, R. M. A., Lucas, R., & Volk, H. A. (2017). Clinical management and diagnostics of paroxysmal dyskinesia in dogs. The Veterinary Journal, 219, 42-48.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta pelo whatsapp (11)97522-5102.
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