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Foto do escritorFelipe Garofallo

Displasia coxofemoral em cães

Atualizado: 26 de jan.

Displasia de anca, displasia de quadril em cães.


A displasia coxofemoral em cães sem dúvida está entre as doenças ortopédicas mais comuns na espécie, causando dor, desconforto e perda na qualidade de vida dos pacientes.


Definição


Na displasia coxofemoral, há discrepância entre o crescimento dos tecidos moles e o tecido ósseo, gerando uma incongruência entre o acetábulo, cabeça e colo femoral.


Em resumo, há o desenvolvimento anormal da articulação do quadril. 


A displasia coxofemoral é uma doença extremamente complexa, que comumente resulta em alterações degenerativas irreversíveis.


Raças predispostas


A predisposição racial é maior em cães porte grande (Golden Retriever, Labrador, Rottweiler, Pastor Alemão) e gigantes (Terra Nova, Dog Alemão), etc. Entretanto, até raças pequenas como Pug, Shih-tzu, Spitz Alemão e Lhasa Apso também frequentemente são diagnosticados.


Etiologia (causa)


O fator determinante para a displasia coxofemoral é genético (hereditário - portanto cães displásicos não devem ser reproduzidos), entretanto fatores ambientais são agravantes. O ganho de peso, associado com piso liso e exercício em excesso pioram o quadro.


Diagnóstico


O diagnóstico da displasia coxofemoral deve ser realizado levando em consideração a raça, idade, histórico, achados físicos e alterações radiográficas.


Sinais clínicos (sintomas)


Os dois principais grupos que apresentam sinais clínicos na displasia coxofemoral são pacientes jovens (5 a 10 meses) e idosos (4 a 6 anos).


Os pacientes jovens apresentam dor devido ao esgotamento da cartilagem articular, onde há exposição das fibras sensitivas no osso subcondral. Além disso, a lassidão articular leva a distensão dos tecidos moles.    


A dificuldade em levantar após o descanso, intolerância ao exercício e claudicação intermitente ou contínua são sinais clínicos comuns nos pacientes jovens.


Já no caso dos pacientes idosos, a osteoartrose pode esconder os sinais de dor. Entretanto, nesse grupo de pacientes também há dificuldade em levantar, intolerância ao exercício, claudicação após exercício, atrofia muscular e marcha em bamboleio.


Exame físico ortopédico


Nos animais jovens, encontramos dor durante a extensão, rotação externa e abdução do membro, musculatura pélvica mal desenvolvida, e a lassidão articular (observado durante o exame em sedação, com a diminuição no ângulo de redução da articulação.  


Nos animais idosos, há dor durante a extensão do membro, redução na amplitude de movimento e atrofia muscular. Geralmente não há lassidão devido a fibrose da cápsula articular e a crepitação pode estar presente.


O teste de Ortolani permite a avaliação da displasia coxofemoral, e consiste na flexão dos membros pélvicos seguida da abdução da coxa. Na existência de uma displasia, ocorre um estalo (o sinal de Ortolani).


Diagnóstico radiográfico


O exame radiográfico é ideal para avaliação, entretanto, nem sempre está associado aos sinais clínicos. Há casos em que pacientes apresentam displasia coxofemoral moderada a severa no exame radiográfico, entretanto são assintomáticos na clínica. 


O exame deve ser feito em sedação ou anestesia leve, para garantir o posicionamento correto, uma vez que permite reduzir a tensão muscular e a dor.


Em geral, o posicionamento radiográfico escolhido é a projeção ventrodorsal da pelve (VD), onde o animal deve estar com quadril estendido, tíbia rotacionada internamente, forames obturados simétricos e patela inserida no sulco troclear.


Radiograficamente, há arrasamento do acetábulo, achatamento da cabeça do fêmur, e pode ocorrer subluxação ou luxação coxofemoral e alterações secundárias.

A classificação dos graus de displasia coxofemoral de acordo com a OFA (Orthopedic Foundation for Animals) é feita somente após 2 anos de idade.


Uma das razões para o paciente ser diagnosticado apenas com 2 anos, é devido a alta probabilidade de se fazer um diagnóstico incorreto em animais jovens, principalmente antes do fechamento das placas epifisárias, uma vez que as alterações radiológicas são mais perceptíveis nos animais adultos.


Há ainda métodos de radiografia de tração, como o Penn Hip, desenvolvido pela Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, que permite a avaliação de pacientes a partir de 4 meses de idade.


Em casos onde a artroscopia for acessível, o método permite a visualização direta das lesões cartilaginosas, visualização da ruptura dos ligamentos e da lesão no lábio acetabular.


No que se refere a alterações laboratoriais, não há alterações relevantes na displasia coxofemoral.


Diagnóstico diferencial


Em cães jovens, é importante descartarmos doenças como panosteíte, osteocondrose, separação fisária, osteodistrofia hipertrófica, ruptura do ligamento cruzado cranial. Enquanto no caso dos cães idosos, neoplasia óssea, poliartrite e doenças neurológicas como síndrome da cauda equina são diagnósticos diferenciais.


Tratamento conservador (medicamentoso)


O tratamento para animais com displasia coxofemoral varia de acordo com a idade, grau de desconforto, achados no exame físico, exame radiográfico, condição financeira e expectativa do cliente com o cão.  


Para os animais jovens e com dor, o tratamento conservador (medicamentoso) poderá ser escolhido. Sendo este, de curto prazo a princípio, e em sequencia em longo prazo.


O tratamento a curto prazo consiste em antiinflamatórios (AINEs), na menor dosagem possível, somente com orientação veterinária, o que permitirá que ele inicie a reabilitação.


O repouso também deve estar presente nessa etapa, durante 10 a 14 dias. Essa é uma fase que requer atenção, uma vez que o anti-inflamatório pode estimular o cão a evitar o repouso, e o tutor precisa ser orientado nesse aspecto. 


Nesses pacientes jovens, a função clínica do membro retorna em 75% dos casos, uma vez que ocorre fibrose da cápsula articular. Entretanto, sempre haverá progressão da osteoartrose.


O tratamento conservador em longo prazo deve seguir os cinco princípios da osteoartrose, que incluem exercícios, redução de peso (pesagem semanal, dieta com pouca gordura e proteínas), suplementação (omega-3, condroitina, glucosamina), AINEs e fisioterapia.


Tratamento cirúrgico


No caso de pacientes jovens e com dor, o tratamento cirúrgico permite um melhor prognóstico para o retorno de uma função clínica aceitável.


A cirurgia é recomendada também para cães com atividade atlética, ou para tutores que tenham como objetivo reduzir a velocidade da doença articular degenerativa.


O tratamento cirúrgico também poderá ser indicado para cães idosos que não respondem ao tratamento conservador.


Cirurgia de osteotomia tripla de pelve


A cirurgia de osteotomia tripla de pelve visa aumentar o recobrimento acetabular sobre a cabeça do fêmur por meio de giro da porção do acetábulo, mantendo a congruência normal da articulação.


É uma técnica indicada para animais de quatro a oito meses de idade, e tem como finalidade utilizar a capacidade de remodelamento dos ossos em desenvolvimento. Nem todo cão é candidato a realizar essa técnica, uma vez que não deve ter doença articular degenerativa ou acetábulo raso. 


Cirurgia de sinfisiodese púbica


Filhotes com menos de 20 semanas de idade são candidatos a sinfisiodese púbica juvenil, entretanto, como a maioria é assintomática nessa idade, são necessários métodos precoces de avaliação, tais como o Penn Hip, citado anteriormente. 


A cirurgia de sinfisiodese púbica juvenil consiste na interrupção do desenvolvimento dos ossos púbicos, gerando em longo prazo uma rotação acetabular semelhante à obtida pela osteotomia tripla.


Cirurgia de desnervação acetabular


A remoção do periósteo do corpo do ílio, na região de junção com cápsula articular, causa denervação da cápsula, gerando analgesia e devolve a movimentação a cães com displasia.


Cirurgia de ressecção da cabeça e colo femoral


Indicado para pacientes em todas as idades, entretanto tem maior sucesso em cães mais leves.


A remoção da cabeça e do colo do fêmur elimina os pontos dolorosos de contato, permitindo a substituição por tecido fibroso.



A técnica de substituição total da articulação coxofemoral (prótese de quadril), é mais comum em animais adultos, os quais o tratamento conservador já não é eficaz. 


Consiste na substituição de uma articulação coxofemoral por uma prótese acetabular em cálice e uma prótese no fêmur, precedidos pela remoção da cabeça e colo femorais.


Fisioterapia


Entre os principais benefícios, a fisioterapia permite a redução da dor, auxilia na amplitude de movimento e fortalecimento das estruturas periarticulares.


Em resumo, a displasia coxofemoral é uma doença multifatorial e complexa, que leva o cão a ter muita dor e dificuldade de movimento ao longo da vida, por isso, cães displásicos devem ser afastados da reprodução.


Para os cães diagnosticado com a displasia coxofemoral, é importante a orientação veterinária para uma melhora na qualidade de vida desses animais.


Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta pelo whatsapp (11)91258-5102.

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