As raças de pequeno porte têm ganhado popularidade ao longo dos anos, especialmente em ambientes urbanos, devido ao seu tamanho compacto e personalidade muitas vezes afetuosa e adaptável. No entanto, essas raças apresentam predisposições genéticas a diversas doenças ortopédicas, que podem comprometer sua qualidade de vida.
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Entre as condições mais frequentemente observadas em cães pequenos estão a luxação patelar, a doença de Legg-Calvé-Perthes, as deformidades angulares e a displasia de cotovelo. Compreender essas doenças é essencial para promover uma abordagem preventiva, diagnóstica e terapêutica eficaz.
A luxação patelar é uma das doenças ortopédicas mais comuns em raças pequenas, como Poodle Toy, Yorkshire Terrier, Chihuahua e Lulu da Pomerânia. Essa condição ocorre quando a patela, o osso sesamoide que auxilia no movimento do joelho, desloca-se de sua posição normal no sulco troclear do fêmur. O desalinhamento pode ser medial ou lateral, sendo o medial mais frequente em cães de pequeno porte.
A luxação patelar frequentemente resulta de uma conformação anatômica inadequada, como sulco troclear raso, deformidade do fêmur distal ou deslocamento do músculo quadríceps. Os sinais clínicos variam desde claudicação intermitente até dificuldade constante em se locomover. O diagnóstico baseia-se em exame físico e, muitas vezes, radiografias. O tratamento pode ser conservador nos casos leves, mas frequentemente requer intervenção cirúrgica, especialmente em graus mais avançados.
Outra condição importante é a doença de Legg-Calvé-Perthes, uma necrose avascular da cabeça femoral que afeta principalmente raças pequenas em crescimento, como o Terrier Brasileiro e o Pinscher Miniatura. Essa doença é causada pela interrupção temporária do suprimento sanguíneo para a epífise femoral, resultando em necrose óssea. Cães afetados geralmente apresentam sinais clínicos entre quatro e oito meses de idade, com claudicação progressiva, dor ao manipular o quadril e atrofia muscular. Radiografias revelam colapso da cabeça femoral e, em casos avançados, deformidade articular. O tratamento conservador raramente é eficaz; a intervenção cirúrgica, como a colocefalectomia ou a substituição articular, é muitas vezes necessária para restaurar a funcionalidade.
As deformidades angulares também são comuns em raças pequenas devido ao crescimento desproporcional entre as fises ósseas. Por exemplo, em raças como Shih Tzu e Lhasa Apso, a deformidade do rádio e da ulna pode levar a claudicação, dor e até instabilidade articular, afetando tanto o conforto do animal quanto sua mobilidade. Essas condições requerem diagnóstico precoce e planejamento cirúrgico cuidadoso para evitar a progressão dos sintomas.
Embora mais frequentemente associada a raças grandes, a displasia de cotovelo também pode afetar cães de pequeno porte, como o Bulldog Francês. Essa condição engloba um conjunto de anormalidades do desenvolvimento que comprometem a congruência articular do cotovelo, levando à dor crônica e à osteoartrite. O diagnóstico precoce por meio de técnicas de imagem, como radiografias ou tomografia computadorizada, é fundamental para determinar a abordagem terapêutica, que pode variar de manejo conservador com medicamentos e fisioterapia até intervenções cirúrgicas específicas.
A prevenção dessas condições ortopédicas exige uma abordagem multifatorial, incluindo manejo nutricional adequado para evitar sobrepeso, acompanhamento veterinário regular e controle do ambiente em que os cães vivem, minimizando traumas. O diagnóstico precoce é essencial para garantir a melhor qualidade de vida possível para os cães de pequeno porte. Além disso, a conscientização dos tutores sobre os sinais precoces dessas doenças e a importância de buscar atendimento especializado contribuem significativamente para o sucesso do tratamento.
Referências Bibliográficas
Ferreira, M. P., & Silva, C. J. (2020). Clinical and radiographic evaluation of patellar luxation in small breed dogs. Journal of Veterinary Orthopedics, 45(2), 132-140.
Oliveira, A. R., & Santos, R. M. (2021). Advances in the diagnosis and treatment of Legg-Calvé-Perthes disease in dogs. Veterinary Research Communications, 50(3), 205-214.
Sobre o autor
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Felipe Garofallo é médico veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta pelo whatsapp (11)97522-5102.
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