A regeneração óssea em cães é um processo complexo que depende de diversos fatores, incluindo a biomecânica do osso afetado, a idade do animal, a presença de comorbidades e a abordagem terapêutica adotada.
Entre os elementos fundamentais para uma recuperação eficiente está o exercício controlado, que desempenha um papel crucial tanto na estimulação da osteogênese quanto na prevenção de complicações secundárias à imobilização prolongada.
O tecido ósseo possui uma notável capacidade de reparação, guiada por um processo biológico coordenado que envolve inflamação inicial, formação do calo ósseo, mineralização e remodelação. O equilíbrio entre carga mecânica e repouso é determinante para a qualidade da regeneração.
O exercício controlado atua diretamente nesse processo, pois estimula a diferenciação osteoblástica por meio da tensão mecânica, promovendo a deposição de matriz óssea e prevenindo a reabsorção excessiva. Estudos demonstram que a aplicação de forças mecânicas intermitentes favorece a organização das trabéculas ósseas e a formação de um calo ósseo mais resistente.
Nos cães submetidos a cirurgias ortopédicas, como osteotomias corretivas ou fixações de fraturas, o retorno à funcionalidade depende não apenas da estabilização cirúrgica, mas também da reabilitação adequada.
A imobilização absoluta pode levar a perda óssea significativa e atrofia muscular, dificultando a recuperação. Dessa forma, protocolos de fisioterapia veterinária frequentemente incluem caminhadas em ritmo controlado, hidroterapia e exercícios específicos para estimular o uso progressivo do membro afetado. A hidroterapia, em particular, é amplamente utilizada na reabilitação de cães ortopédicos, pois permite um movimento mais fluido sem a sobrecarga completa do peso corporal, reduzindo a dor e otimizando a recuperação óssea.
A intensidade e a duração do exercício precisam ser ajustadas conforme a fase da cicatrização óssea. Nas primeiras semanas, a movimentação passiva e exercícios de baixo impacto são preferíveis para evitar o deslocamento da fixação cirúrgica e permitir a consolidação inicial. Conforme a formação do calo ósseo se intensifica, a carga mecânica pode ser aumentada gradualmente, respeitando os sinais clínicos do animal.
Exercícios de propriocepção, como caminhar sobre superfícies irregulares, podem ser introduzidos para melhorar a estabilidade articular e a distribuição equilibrada do peso nos membros.
Além da influência biomecânica, fatores nutricionais e hormonais também desempenham um papel na regeneração óssea. Dietas ricas em cálcio, fósforo e vitamina D são essenciais para garantir a mineralização adequada do tecido recém-formado. O acompanhamento com exames de imagem, como radiografias seriadas, é necessário para avaliar a evolução da regeneração óssea e ajustar os protocolos de reabilitação conforme necessário.
Portanto, o exercício controlado é uma ferramenta indispensável na reabilitação de cães com lesões ósseas. Seu uso criterioso melhora a qualidade da regeneração óssea, reduz complicações associadas ao desuso e contribui para a restauração da mobilidade funcional. A abordagem individualizada, aliando fisioterapia, nutrição adequada e monitoramento clínico rigoroso, é essencial para otimizar os resultados e garantir uma recuperação completa.
Referências bibliográficas
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Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta pelo whatsapp (11)97522-5102.
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