A Serratia marcescens é uma bactéria Gram-negativa, pertencente à família Enterobacteriaceae, que tem se mostrado um patógeno emergente em diversas espécies animais, incluindo os cães. Esta bactéria é um oportunista notório, sendo frequentemente associada a infecções nosocomiais em humanos, mas seu impacto em medicina veterinária tem sido cada vez mais reconhecido.
Em cães, a infecção por Serratia marcescens pode manifestar-se de várias formas, dependendo da via de entrada e do sistema afetado. Entre as infecções mais comuns, destacam-se as urinárias, respiratórias, cutâneas e sistêmicas. No contexto de infecções urinárias, esta bactéria pode causar cistites e pielonefrites, apresentando-se com sinais clínicos como disúria, hematúria e poliúria. A capacidade de Serratia marcescens formar biofilmes em cateteres urinários é um fator crítico que contribui para a persistência e recorrência das infecções urinárias.
As infecções respiratórias causadas por Serratia marcescens em cães podem se apresentar como pneumonia, bronquite ou traqueíte, muitas vezes em animais imunocomprometidos ou submetidos a procedimentos invasivos. Clinicamente, os cães podem exibir tosse, dispneia e febre. A gravidade da infecção respiratória está frequentemente relacionada à extensão da colonização bacteriana e à resposta inflamatória do hospedeiro.
Infecções cutâneas por Serratia marcescens geralmente ocorrem em feridas abertas ou após procedimentos cirúrgicos, podendo resultar em abscessos ou celulites. Estas infecções são particularmente problemáticas em ambientes hospitalares veterinários, onde a disseminação da bactéria pode ocorrer através de instrumentos contaminados ou pela manipulação inadequada de feridas. Os sinais clínicos incluem dor, edema, eritema e, em casos mais graves, necrose tecidual.
A Serratia marcescens é também um patógeno potencial em infecções sistêmicas, especialmente em cães com sistemas imunológicos comprometidos ou subjacentes a outras condições médicas graves. A septicemia por Serratia marcescens é uma condição grave, frequentemente fatal, caracterizada por febre alta, letargia, anorexia e choque séptico. A disseminação hematogênica da bactéria pode levar à formação de focos infecciosos em múltiplos órgãos, exacerbando a condição clínica do paciente.
O diagnóstico de infecções por Serratia marcescens em cães é feito através do isolamento e identificação da bactéria em amostras clínicas, como urina, secreções respiratórias, exsudatos de feridas ou sangue. O uso de métodos microbiológicos convencionais, como culturas bacterianas, é essencial.
O tratamento das infecções por Serratia marcescens em cães pode ser desafiador devido à resistência intrínseca e adquirida desta bactéria a múltiplos antimicrobianos. Esta resistência é frequentemente mediada por fatores como a produção de beta-lactamases, que inativam muitos antibióticos beta-lactâmicos. O manejo terapêutico geralmente requer a utilização de antibióticos de amplo espectro, como aminoglicosídeos, quinolonas ou carbapenêmicos, após a realização de testes de sensibilidade antimicrobiana para guiar a escolha do medicamento mais apropriado.
Além do tratamento antimicrobiano, medidas de controle de infecção são cruciais para prevenir a disseminação de Serratia marcescens em ambientes veterinários. Estas medidas incluem a esterilização adequada de instrumentos cirúrgicos, o uso criterioso de cateteres, a higiene rigorosa das mãos e a desinfecção de superfícies. A educação continuada de profissionais de saúde veterinária sobre práticas de prevenção de infecções é fundamental para reduzir a incidência de infecções nosocomiais por Serratia marcescens.
Em conclusão, a Serratia marcescens é uma bactéria oportunista significativa em medicina veterinária, capaz de causar uma ampla gama de infecções em cães. O diagnóstico precoce e o tratamento apropriado são essenciais para o manejo eficaz dessas infecções, assim como a implementação de rigorosas medidas de controle de infecção para prevenir a disseminação da bactéria em ambientes clínicos.
Referências bibliográficas
1. Mahlen, S.D. (2011). Serratia infections: from military experiments to current practice. Clinical Microbiology Reviews, 24(4), 755-791.
2. Grimont, F., Grimont, P.A.D. (2006). The Genus Serratia. Prokaryotes, 6, 219-244.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta presencial pelo whatsapp (11)91258-5102 ou uma consultoria on-line por vídeo.