Levetiracetam é um anticonvulsivante de segunda geração amplamente utilizado na medicina veterinária para o tratamento de convulsões em cães. Sua popularidade tem crescido devido à sua eficácia e perfil de segurança, tornando-se uma escolha frequente tanto para monoterapia quanto para terapia adjuvante em pacientes caninos com epilepsia.
O mecanismo de ação do levetiracetam não é completamente compreendido, mas acredita-se que ele se ligue a uma proteína vesicular sináptica específica, conhecida como SV2A, que está envolvida na liberação de neurotransmissores. Essa ligação modula a liberação de neurotransmissores e estabiliza a atividade neuronal, o que contribui para sua eficácia anticonvulsivante. Além disso, o levetiracetam tem mostrado ter propriedades neuroprotetoras, o que pode ser benéfico para cães com doenças neurológicas subjacentes.
Uma das principais vantagens do levetiracetam é seu perfil farmacocinético favorável. Ele é bem absorvido após administração oral, com biodisponibilidade próxima de 100%. Em cães, atinge níveis terapêuticos no sangue rapidamente, geralmente dentro de uma hora após a administração. O levetiracetam é excretado principalmente de forma inalterada pelos rins, o que minimiza o risco de interações medicamentosas, uma característica particularmente útil em cães que estão tomando múltiplos medicamentos.
Clinicamente, o levetiracetam é utilizado em cães para controlar uma variedade de distúrbios convulsivos. Ele é eficaz no tratamento de crises epilépticas generalizadas e parciais, incluindo aquelas que são refratárias a outros anticonvulsivantes. Estudos têm mostrado que o levetiracetam pode reduzir significativamente a frequência e a gravidade das crises em cães com epilepsia idiopática. Além disso, é frequentemente utilizado como terapia adjuvante em cães que não respondem adequadamente a outros anticonvulsivantes, como fenobarbital e brometo de potássio.
A dosagem de levetiracetam pode variar dependendo da gravidade e da frequência das convulsões, bem como da resposta individual do cão ao medicamento. A dose inicial recomendada é geralmente de 20 mg/kg, administrada a cada 8 horas. Em alguns casos, pode ser necessário ajustar a dose para alcançar um controle adequado das convulsões. É importante monitorar os níveis séricos do medicamento e ajustar a dosagem conforme necessário para minimizar os efeitos colaterais e maximizar a eficácia.
Os efeitos colaterais do levetiracetam em cães são geralmente leves e transitórios. Os mais comuns incluem sedação, ataxia e alterações no apetite. Esses efeitos colaterais tendem a diminuir com o tempo, à medida que o corpo do cão se ajusta ao medicamento. Em casos raros, podem ocorrer reações adversas mais graves, como alterações comportamentais ou problemas gastrointestinais, mas esses são incomuns.
Além do tratamento de convulsões, o levetiracetam tem mostrado potencial em outras condições neurológicas em cães. Há evidências sugerindo que ele pode ser benéfico em condições como mielopatia degenerativa e outras doenças neurodegenerativas, devido às suas propriedades neuroprotetoras. No entanto, mais pesquisas são necessárias para confirmar esses benefícios em aplicações clínicas mais amplas.
Em conclusão, o levetiracetam é uma opção terapêutica valiosa para o manejo de convulsões em cães. Seu perfil farmacocinético favorável, eficácia clínica e baixo risco de interações medicamentosas o tornam uma escolha atraente para muitos veterinários. Com um monitoramento adequado e ajustes de dosagem, o levetiracetam pode proporcionar um controle eficaz das convulsões e melhorar significativamente a qualidade de vida dos cães epilépticos.
Referências bibliográficas
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Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta presencial pelo whatsapp (11)91258-5102 ou uma consultoria on-line por vídeo.