A morfina é um opioide amplamente utilizado na medicina veterinária para o controle da dor em cães. Como analgésico, é particularmente eficaz no manejo da dor aguda e crônica, além de ser uma escolha comum para o alívio da dor pós-operatória. O seu uso requer uma compreensão detalhada da farmacologia, dosagem, administração, e efeitos colaterais potenciais.
Mecanicamente, a morfina atua ligando-se aos receptores opioides no sistema nervoso central e periférico, principalmente os receptores μ (mu), embora também interaja com os receptores δ (delta) e κ (kappa). Esta ligação impede a transmissão de sinais de dor ao cérebro, proporcionando alívio significativo ao animal. A morfina pode ser administrada por várias vias, incluindo intravenosa, intramuscular, subcutânea e epidural, dependendo da situação clínica e da necessidade específica de analgesia.
A dosagem de morfina em cães varia de acordo com a via de administração e o nível de dor do animal. Tipicamente, a dose intravenosa é de 0,1 a 0,5 mg/kg, enquanto a administração intramuscular ou subcutânea pode variar de 0,5 a 1,0 mg/kg. É crucial que a dosagem seja ajustada conforme a resposta do paciente e sob rigorosa supervisão veterinária, uma vez que a superdosagem pode resultar em efeitos adversos graves.
A morfina tem um rápido início de ação quando administrada por via intravenosa, proporcionando alívio da dor dentro de minutos. Quando administrada por via intramuscular ou subcutânea, o início da ação pode ser mais lento, mas a duração do efeito analgésico pode ser mais prolongada. A morfina epidural é particularmente útil para procedimentos cirúrgicos e dor pós-operatória, oferecendo um alívio prolongado com doses menores e menos efeitos colaterais sistêmicos.
No entanto, a morfina não está isenta de efeitos colaterais. Entre os mais comuns estão a sedação, vômitos, constipação e bradicardia. Em doses elevadas, pode causar depressão respiratória, hipotensão e até colapso cardiovascular. É importante monitorar os cães de perto após a administração de morfina, especialmente nas primeiras horas, para garantir que quaisquer efeitos adversos sejam identificados e tratados prontamente.
A tolerância e a dependência física são preocupações adicionais com o uso prolongado de morfina. Os cães podem desenvolver tolerância à droga, necessitando de doses progressivamente maiores para alcançar o mesmo nível de analgesia. A dependência física pode se manifestar através de sintomas de abstinência se a droga for abruptamente descontinuada. Portanto, a retirada da morfina deve ser realizada gradualmente, com redução progressiva da dose.
Devido ao potencial de abuso humano e ao status de substância controlada, o uso de morfina em medicina veterinária é regulamentado. Os veterinários devem seguir estritamente as diretrizes locais e federais para prescrição, armazenamento e descarte da morfina.
Na prática clínica, a morfina é frequentemente utilizada como parte de um protocolo multimodal de analgesia, combinada com outras classes de analgésicos, como AINEs (anti-inflamatórios não esteroides) e anestésicos locais, para proporcionar um controle mais eficaz da dor e minimizar os efeitos colaterais.
Em resumo, a morfina é uma ferramenta valiosa para o controle da dor em cães, desde que usada com cuidado e sob supervisão veterinária. Seu uso deve ser cuidadosamente monitorado para evitar efeitos adversos e garantir o bem-estar do animal. A administração adequada e a observância das regulamentações são fundamentais para o uso seguro e eficaz desta potente droga analgésica.
Referências bibliográficas
1. Papich, M. G. (2016). Saunders Handbook of Veterinary Drugs: Small and Large Animal. Elsevier Health Sciences.
2. Plumb, D. C. (2018). Plumb's Veterinary Drug Handbook. Wiley-Blackwell.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta presencial pelo whatsapp (11)91258-5102 ou uma consultoria on-line por vídeo.
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