A reabilitação pós-cirúrgica de cães com ruptura de ligamento cruzado é um processo fundamental para garantir a recuperação completa e o retorno à funcionalidade da articulação. A ruptura do ligamento cruzado cranial é uma das lesões ortopédicas mais comuns em cães, especialmente em raças de médio e grande porte. Após a cirurgia, seja ela uma técnica de osteotomia como a TPLO (osteotomia de nivelamento do platô tibial) ou a técnica de sutura extracapsular, o sucesso da recuperação depende diretamente da abordagem de reabilitação adotada. Essa fase é essencial não apenas para restabelecer a função da articulação, mas também para minimizar o risco de complicações e garantir que o cão possa retornar às suas atividades normais.
Nas primeiras semanas após a cirurgia, o foco está em controlar a dor e o inchaço, bem como em evitar que o animal coloque peso excessivo sobre a perna operada. Isso é geralmente feito com o uso de analgésicos, anti-inflamatórios e compressas de gelo. Além disso, o confinamento controlado e o uso de guias curtas para caminhadas supervisionadas são recomendados, a fim de evitar movimentos bruscos ou quedas que possam comprometer a cirurgia. Durante esse período, é comum que os veterinários orientem os tutores a limitar a movimentação do cão, mantendo-o em ambientes restritos e seguros, com pisos antiderrapantes para evitar escorregões.
Conforme a cicatrização avança, geralmente entre a quarta e a sexta semana, introduz-se uma atividade física leve e controlada. Exercícios de baixo impacto, como caminhadas curtas e controladas em superfícies planas, ajudam a fortalecer os músculos ao redor da articulação sem sobrecarregá-la. A hidroterapia, que utiliza a água como meio para reduzir o impacto nas articulações, é amplamente recomendada nesta fase. O ambiente aquático permite que o cão movimente os membros operados com menos esforço, promovendo a recuperação muscular e aumentando a amplitude de movimento sem sobrecarregar a articulação recém-operada. Além disso, a água tem um efeito terapêutico, ajudando a relaxar os músculos e a aliviar a dor residual.
Os exercícios de fisioterapia também desempenham um papel vital na recuperação. Alongamentos passivos e exercícios de amplitude de movimento são recomendados para manter a flexibilidade da articulação e evitar contraturas musculares. Conforme o cão vai ganhando força e estabilidade, os exercícios mais desafiadores, como subir e descer rampas leves e realizar pequenos percursos de obstáculos, são introduzidos. Esses exercícios ajudam a restaurar o equilíbrio e a coordenação, habilidades que podem ser prejudicadas pela inatividade prolongada e pelo trauma cirúrgico. O uso de bolas terapêuticas e esteiras também pode ser útil para reeducar o cão a distribuir o peso adequadamente entre os membros.
No entanto, cada caso de reabilitação é único, e o plano de reabilitação deve ser adaptado às necessidades específicas de cada animal, levando em consideração fatores como idade, peso, condição física geral e o grau de comprometimento articular antes da cirurgia. Para cães mais idosos ou com outras condições articulares, como a displasia coxofemoral, o processo de reabilitação pode ser mais longo e exigir uma abordagem mais cautelosa, com exercícios de intensidade menor e uma recuperação mais gradual.
Outro ponto importante a ser considerado é a manutenção do peso corporal adequado durante e após o processo de reabilitação. O excesso de peso pode sobrecarregar a articulação operada e retardar a recuperação, além de aumentar o risco de uma nova lesão. Por isso, é essencial que os tutores, em conjunto com o veterinário, adotem uma dieta equilibrada e, se necessário, um programa de perda de peso para o cão.
Em suma, a reabilitação pós-cirúrgica de cães com ruptura de ligamento cruzado envolve um processo multidisciplinar que inclui o controle da dor, exercícios controlados, fisioterapia e, em alguns casos, técnicas avançadas como a hidroterapia. Com um planejamento adequado e acompanhamento veterinário, a maioria dos cães pode voltar a uma vida normal, com uma boa qualidade de movimento e sem dor. Contudo, a dedicação do tutor ao processo é crucial para garantir o sucesso da recuperação.
Referências:
1. Lafuente, P., & Jaeger, G. H. (2020). Canine cranial cruciate ligament disease: pathophysiology, diagnosis, and treatment. Veterinary Surgery.
2. Millis, D. L., & Levine, D. (2014). Canine Rehabilitation and Physical Therapy. Elsevier.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta presencial pelo whatsapp (11)91258-5102 ou uma consultoria on-line por vídeo.
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