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Foto do escritorFelipe Garofallo

Bactérias resistentes a antibióticos na medicina veterinária

Atualizado: 25 de out. de 2024

A crescente resistência dos antibióticos é um fenômeno preocupante que tem desafiado a medicina moderna, forçando profissionais de saúde a recorrer a antibióticos antigos que muitas vezes foram deixados de lado devido aos seus efeitos colaterais e toxicidade.

Fonte: https://www.sprayedout.com/german-shepherd-dog-at-sunset/

A resistência aos antibióticos é um processo natural que ocorre através da evolução e seleção natural, mas a aceleração deste processo nos últimos anos pode ser atribuída a vários fatores antropogênicos e ecológicos.


Uma das principais razões para o aumento da resistência aos antibióticos é o uso indiscriminado e excessivo desses medicamentos, tanto em humanos quanto em animais.


O uso inadequado de antibióticos, como o tratamento de infecções virais com antibióticos, a prescrição de doses incorretas e a falta de adesão ao regime completo de tratamento, contribuem significativamente para a resistência. Quando os antibióticos são usados de forma inadequada, nem todas as bactérias são eliminadas; as sobreviventes, frequentemente as mais resistentes, proliferam e passam suas características de resistência para futuras gerações.


Além do uso humano, a utilização de antibióticos na agricultura é outro grande contribuinte para a resistência bacteriana. Antibióticos são frequentemente adicionados à ração de animais para promover o crescimento e prevenir doenças em condições de superlotação e higiene inadequada. Este uso contínuo cria um ambiente ideal para o desenvolvimento e a disseminação de bactérias resistentes. As bactérias resistentes nos animais podem ser transferidas para os humanos através do consumo de carne contaminada ou através do meio ambiente, como a água e o solo, que podem estar contaminados com resíduos de antibióticos.


A globalização e o aumento das viagens internacionais também desempenham um papel significativo na disseminação da resistência aos antibióticos. As pessoas podem transportar bactérias resistentes de uma região para outra, facilitando a propagação global de patógenos resistentes. Este fenômeno é exacerbado em regiões onde a regulamentação sobre o uso de antibióticos é mais frouxa ou inexistente, e onde a vigilância e o controle de infecções são inadequados.


A pressão seletiva exercida pelo uso de antibióticos cria um ambiente onde apenas as bactérias resistentes sobrevivem e prosperam. Este processo é acelerado pela capacidade das bactérias de trocar material genético através de mecanismos como a conjugação, a transformação e a transdução. Essas trocas genéticas podem transferir genes de resistência entre diferentes espécies de bactérias, tornando a resistência um problema ainda mais complexo e difícil de controlar.


Historicamente, novos antibióticos foram desenvolvidos para combater bactérias resistentes, mas o ritmo de descoberta e desenvolvimento de novos antibióticos tem diminuído drasticamente.


Muitas empresas farmacêuticas reduziram ou cessaram a pesquisa de novos antibióticos devido ao alto custo e ao baixo retorno financeiro. O desenvolvimento de um novo antibiótico é um processo longo e caro, e uma vez que um novo antibiótico é introduzido no mercado, a inevitável emergência de resistência pode reduzir sua eficácia e vida útil, tornando o investimento menos atraente.


Além disso, o uso de antibióticos em combinação com outros medicamentos, como em terapias para doenças crônicas ou imunossupressivas, pode criar pressões adicionais para o desenvolvimento de resistência.


As infecções nosocomiais, aquelas adquiridas em hospitais, são particularmente preocupantes, pois os ambientes hospitalares contêm uma alta concentração de patógenos resistentes devido ao uso intensivo de antibióticos e às condições de vulnerabilidade dos pacientes.


A reemergência de antibióticos antigos como tratamento para infecções resistentes é uma resposta ao esgotamento das opções terapêuticas atuais. No entanto, esses antibióticos muitas vezes vêm com um perfil de efeitos colaterais que pode ser severo, limitando seu uso a situações de emergência onde não há outras alternativas. Esta abordagem também não é uma solução sustentável a longo prazo, pois a resistência aos antibióticos antigos pode reaparecer rapidamente.


Em conclusão, a resistência aos antibióticos é um problema multifacetado impulsionado pelo uso inadequado de antibióticos em humanos e animais, a mobilidade global, a falta de novos desenvolvimentos farmacêuticos e a capacidade intrínseca das bactérias de evoluir e compartilhar genes de resistência.


A solução para este problema requer uma abordagem integrada que inclua a regulamentação mais rigorosa do uso de antibióticos, a promoção de práticas de prescrição responsável, o investimento em pesquisa para novos medicamentos e alternativas terapêuticas, e a implementação de estratégias eficazes de controle de infecção.


Referências bibliográficas


1. Ventola, C. L. (2015). The antibiotic resistance crisis: part 1: causes and threats. *P & T: a peer-reviewed journal for formulary management*, 40(4), 277–283.

2. Davies, J., & Davies, D. (2010). Origins and evolution of antibiotic resistance. *Microbiology and Molecular Biology Reviews*, 74(3), 417–433.

nisms and drivers of antimicrobial resistance. *The Lancet*, 387(10014), 176-187.

Sobre o autor


Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta presencial pelo whatsapp (11)91258-5102 ou uma consultoria on-line por vídeo.

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